Tinha uma grande extensão de capim sementeira, que os passarinhos pousavam para comer.
Certa vez, eu e um colega, pegamos cada um uma gaiola, com chama e alçapão, e fomos para lá caçar coleirinhas. Eram umas 09:00hs da manhã.
Chegamos e armamos as gaiolas e ficamos de longe só observando na espera de um coleirinha cair no alçapão. De onde nós estávamos dava para ver as primeiras casas do bairro.
Fazia um dia lindo, ensolarado e logo caiu um coleirinha no meu alçapão e depois no do meu colega e ai não parou mais, foi um atrás do outro. Era só alegria.
- Peguei mais um.
- Eu também
E assim foi, até a gaiola ficar lotada com uns 20 coleirinhas.
- Eu estou com fome.
- Eu também estou.
- Já chega de caçar, já deve ser meio dia.
- É já é tarde, vamos pegar as gaiolas e vamos voltar pra casa.
Quando começamos a andar em direção as casas, de repente meu colega, que ia à frente, perguntou:
- Ué! Cadê as casas?
- Ora, estão ali na frente.
- Mas eu não estou vendo?
- Vamos indo que logo chegamos lá.
- Mas já era para nós termos chegado?
- É mesmo
Mudamos de direção e continuamos.
- Vamos logo que estou morrendo de fome.
Começamos a acelerar os passos. De repente parecia que o mato havia crescido na nossa frente e nós não conseguíamos ver mais nenhuma casa, apenas mato.
- Vamos para outro lado. Não é possível, nós conhecemos esse lugar como se fosse nossa casa, como não estamos conseguindo sair daqui?
- Não sei, só sei que eu estou morrendo de fome e estou estranhando tudo isso. Nós já andamos para tudo que foi lado e não chegamos nem perto da nossa casa. Nos estamos perdidos.
- Nós já andamos para lá e para cá e nada. Vamos voltar para o lugar que estávamos caçando e descansar, quem sabe pode aparecer alguém e a gente segue, ou a gente vai ter que passar a noite aqui.
- É o jeito.
Então voltamos para o mesmo lugar que estávamos caçando.
Sentamos, comemos uns caquis e goiabas e ficamos prestando atenção se vinha alguém para nós ajudar.
Já eram 16:30hs e nós já estávamos desanimando e se conformando de que teríamos que passar a noite ali.
Começamos a procurar galhas para fazer uma cabana para passar a noite.
Papo vai, papo vem, quebra galha e finca no chão, quando de repente o Quim (apelido do meu amigo) grita:
- Olhas as casas ali!
- Onde?
- Ali, olha.
Não falamos mais nada. Pegamos as gaiolas e em menos de cinco minutos estávamos no meio do bairro andando o mais rápido que podiamos, pois já escurecia.
Nos despedimos e cada um foi para sua casa.
Chegando em casa, com a gaiola cheia, minha mãe e meu avó perguntaram:
- A caçada foi boa?
- Porque a demora? Já ia atráz de vocês para senta-lhes uma surra.
- Mãe era pra eu estar aqui 12:00hs. O resto do dia ficamos procurando o caminho de casa. Engraçado que onde estávamos, eu conheço como a palma da minha mão. Não sei o que aconteceu, mas foi bem esquisito. Quando falamos: “Vamos embora”, tudo ficou estranho e nós não achávamos o caminho de volta.
Meu avô sempre misterioso e sério esclareceu a questão:
- Ah! Então foi isso. Vocês falaram “vamos embora?”.
- Sim vô, falamos.
- Então aprendam. Todo matagal tem um dono. Quando vocês forem caçar, vocês entram quietos e saem mudos. Se falarem “Vamos Embora”, esse dono invisível faz com que vocês se percam para não trazerem o que ele deixou vocês pegarem.
Desse dia em diante, a gente entrava no mato para caçar ou para qualquer outra coisa e quando íamos sair, saiamos em silêncio e se sobrava alguma coisa de comida nós deixávamos lá em forma de agradecimento.
Nunca mais me perdi.
Por: Miltinho
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